quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Do Amor

olhai quão grande é o amor apaixonado
que é vício e delícia e fogo ardente.

não busqueis pelo amor um dominado
sede antes escravos pela sua lei
e assim sereis livres finalmente.

disseram:«fez-te o amor sofrer intensamente!»
«me agradam suas penas!» foi o que afirmei.

o coração quis doença p´ró corpo nos vestir
a liberdade de escolha eu lhe outorguei.

censurais-me de emagrecido andar.
mas a excelência d´adaga, a que se resume
senão à finura do seu gume?

troçaste por a amada me deixar
mas a noite derradeira de cada lunação
rouba dos olhares a face do crescente.

pensaste que a brisa da consolação,
como um sono profundo, está presente?

secou-se o amor com o fogo do amor
om ela ficará meu pranto defensor.

como o meu coração se lacerava
quando se inclinava graciosa
e a redenção das madeixas despontava!

a quem foi dado contemplar seu véu
escondendo uma manhã tão luminosa
que abraçava um nocturno céu?

dona da alma do jardim, é terno ramo,
coração de zimbro, corça que eu amo

o brilho do seu rosto amarfanhava
a própria lua em todo o seu esplendor
e o grasnar dos gansos em redor
era o ornamento que o cercava.

da noite da união nasce o dia enfim
e o odor da volúpia vem a mim.

minhas lágrimas caíram copiosas
sobre o belo jardim daquela face
assim humedecendo suas rosas

até que do destino o desenlace
me fez beber da taça da separação
e me tornei ébrio desde então.


Ibn ´Ammâr Al-Andalusî

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